terça-feira, 20 de novembro de 2012

Penso, logo insisto.



Sabe aquela sensação do último fósforo da caixa? Aquele que teima em apagar rapidamente, mesmo sem motivos. Sem ventos perturbadores ou uma umidade invisível.

Era assim que por vezes ela se sentia. Como o fósforo. O último suspiro cheio de expectativa... E, mesmo na ausência de qualquer fator negativo, ela simplesmente apagava.

Eu fico aqui imaginando o que o fósforo pensaria (se dessa capacidade ele fosse dotado) depois de 'falhar' perante o único sentido da sua existência. "Foi tudo tão rápido... E diante da euforia de fazer certo, meu encantamento por estar finalmente fazendo foi mais avassalador que a preocupação com o ato em si. Eu falhei não por não ter feito, eu falhei por quê não dei atenção de como estava fazendo..."

Esperto porém tardio, esse pensamento.

Voltando a ela. Creio que podemos também fazer um paralelo com os supostos pensamentos daquele nosso fósforo afobado. "Foi o conforto por saber que estava fazendo o certo que me acomodou o suficiente para arriscar além da minha própria fronteira. E a euforia que me ganhou por finalmente estar ali, por finalmente conseguir dar um passo além, me comoveu de tal forma que eu apaguei. Apaguei e esqueci como me comportar ali, além da fronteira de mim. Errei e não sei o porquê. Errei e tudo que eu disser agora vai parecer uma mera maquiagem dos fatos, um remendo malfeito daquilo que eu mesma mal cuidei."

Analogia incomum a parte, ela realmente me comoveu. Eu só pensava na imagem do fósforo pouco queimado, mas já sem serventia. Só pensava na imagem dela com as mãos tremendo e a cabeça baixa, olhando para si e procurando desesperadamente o defeito.

Foi aí que eu pensei na sorte que temos. Diferentemente daquele pedacinho de madeira inutilizado, essas nossas 'euforias avassaladoras' não definem nosso sentido de existência. Prestar atenção na coisa errada é demasiado humano. Perder a noção da passagem de tempo e tomar consciência das consequências dessa displicência também. O nosso trunfo é entender e reconhecer isso. O nosso trunfo é poder acender novamente e poder ir além da nossa fronteira. Quantas vezes for preciso e desejado.


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